A HOSPEDARIA DA MORTE

José Nascimento é Cordelista e contista. Contabilista pela Universidade Federal de Alagoas. Funcionário da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos. É natural de Cajueiro-Alagoas.
Membro da Academia Alagoana de Literatura de Cordel e da Confraria: Nós, Poetas.


A HOSPEDARIA DA MORTE



Registros paranormais
Já houve em tempos passados
Na era contemporânea       
Quase sempre são mostrados
Trago um caso monstruoso
Com jovens recém-casados.

Juliano e Catarina
Cansados da vida urbana
Resolveram viajar
Curtir o fim de semana
Por acaso se hospedaram
Numa maldita cabana.

Em um mustang embarcaram
O rapaz e sua amante
Deu erro no GPS
Pararam no mesmo instante
Bem no meio do caminho
Encontraram um informante.

Era um homem corpulento
Com aparência distinta
As mãos cobertas por luvas
Na testa tinha uma pinta
Cabelos e barba longos
Usava botas e cinta.

O viajante falou :
― Boa tarde homem de bem!
A gente anda sem rumo
Meu GPS também
Por favor me ensine a rota
Da fazenda Santarém.

Respondeu: ― Não estão longe    
Um pouco mais que uma milha
Vão por dentro da floresta
Podem seguir pela trilha
Cuidado que um temporal
Pode ser uma armadilha.

Hoje o dia está nublado
Como vocês podem ver
Não chegarão à fazenda
Antes do anoitecer
Pelo andar da carruagem
Em segundos vai chover.

― Mas existe uma cabana
Ela serve como abrigo
Quando chove, essa rodagem
É sinônimo de castigo
No rancho estarão seguros
Livres de qualquer perigo.

Depois daquela retórica
Aquele homem saiu
Não deu mais uma palavra
Nem sequer se despediu
Sorumbático e cabisbaixo
Como um fantasma sumiu.

O casal seguiu o mapa
Deixado pelo estrangeiro
Catarina alegremente
Cantava o caminho inteiro
Sorridente batucava
No volante o companheiro.

De repente o céu de anil
Num minuto escureceu
O sol gritou: ― Até logo!
Um trovão se enfureceu
A lua não deu as caras
Mas a chuva apareceu.

Animais mudaram hábitos
Morcegos davam rasantes
Trovões e raios bailavam
Como se fossem amantes
Da mata se ouviam uivos
Gemidos horripilantes.

Nos faróis do automóvel
A cabana aparecia
Catarina disse: ― Amor!
Olhe a nossa hospedaria
Não quero dormir aqui
Esta casa me arrepia.

― Existe uma velha lenda
Sobre a “Cabana Maldita“
Nela um bruxo secular
Provoca muita desdita
Ao ver o lugar macabro
Lembrei e fiquei aflita.

O esposo ratificou
― Eu serei bastante honesto
O local traz arrepios
É um recinto funesto
Mas você está comigo
Não se importe com o resto.


A choupana sem ter luz
Acenderam a lamparina
Um vento forte soprava
Na janela sem cortina
Juliano revelou
Um segredo a Catarina:

― Tenho tido pesadelos
E agora veio um receio
Neles você me matava
Durante o nosso passeio
Raivosa e sem piedade
Num casebre muito feio

― Apenas coincidência       
Respondeu a companheira
Segurou na mão do moço
Falou: ― Deixe de besteira!
Eu irei matá-lo, sim
De prazer a noite inteira.

O rapazola sorriu
Nutriu-se de bom humor
Nasceu um clima romântico
Ali fizeram amor
Os corpos se entrelaçaram
Se tocaram com fervor.

Exausto e quase dormindo
Chegou na mente a lembrança
Quis olhar o seu veículo
Se ele estava em segurança
No percurso ele avistou
O vulto de uma criança.

O final deste e outros cordéis você encontra na Coletânea O BAÚ DO MEDO.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A LAGOA DO TERROR

O NOIVADO MACABRO

AS NOVAS PRESEPADAS DE JOÃO GRILO E CHICÓ