O HOMEM QUE NÃO TINHA MEDO

José Edimar M. Barbosa; nasceu em 07 de junho de 1957 em Piripiri - PI. Filho do casal Manoel Mendes Barbosa e Francisca Pereira Mendes. Desde os 06 anos de idade começou a ouvir os vendedores de folhetos de cordel nas feiras livres que vendiam e cantavam seus romances como era conhecidos. Também começou a fazer suas leituras passando a ser contador de histórias de Trancoso, e gostar de cantorias de viola. Escreveu seu 1º folheto em 1973 “Terras de Fuxiqueiros" baseado em história real, ficando de 1976 a 1997 sem participar de nenhuma cantoria e sem ler mais nenhum folheto, somente a partir de então despertou novamente. Passando a participar dos Festivais de Violeiros na região e das cantorias. Atualmente vive da arte da cantoria de viola, é repentista e cordelista já escreveu vários folhetos de cordel, poemas e vaquejadas. É membro da AVIPOP – Associação dos Violeiros e Poetas Populares do PI. É um dos fundadores da ASPOPOT- Associação dos Poetas Populares de Timon e Região dos Cocais com a participação de vários Poetas e foi Presidente nos dois primeiros mandatos.


O HOMEM QUE NÃO TINHA MEDO


Ouvi muitos comentários
Quando morei no sertão
Que medo nunca existiu
Era a mais pura invenção
Para enganar os otários
Tudo uma grande ilusão.


Ouvi com muita atenção
O que um sábio dizia
Que nesse grande universo
Coisa demais existia
Que nem se quer imagina
Nossa vã filosofia!

Procurei meu velho avô
Pra desmanchar esse enredo
Perguntei sobre o assunto
Ele não me fez segredo
Nunca esqueci a resposta
“Quem é vivo sente medo“
               
O medo traz um sintoma
Difícil de entender
Seja no dia ou na noite
Ele pode acontecer
Já fez medroso subir
Onde não pode descer!

Lá no sertão da Bahia
Não sei qual localidade
Morava um tal Zé Grandão
Pabulador de verdade
Dizendo – Medo é tolice
 Ou pura leviandade!

Nem medo, nem Deus existem.
Todo dia ele falava
Se existisse Deus talvez
Para mim se apresentava
E o medo com certeza
Alguma vez me tocava!

Passou assim muito tempo
Vivendo de pabulagem
Quando um dia decidiu
Sair em longa viagem
Procurar Deus e o medo
Pra ver se tinha vantagem!
               
Matou um boi bem erado
Carne botou pra secar
Deu quase duzentos quilos
Para um burro carregar
Outro burro com farinha
E o que fosse precisar!

Montou num burro possante
Levou arma e munição
Um punhal de duas quinas
Cartucheira e cinturão
Pegou um rifle e revólver
Caso houvesse precisão!

Seguiu a estrada em frente
Ao povo ia procurando
Se alguém conhecia o medo
Todo mundo relatando
Ele ouvindo e mesmo assim
Inda saía zombando!

Chegando ao final do dia
Passou na última morada
O dono fez um apelo
Pra quê fizesse pousada
Que havia grande perigo
Prosseguir naquela estrada!
            
Por ser muito perigosa
Muitos já tinham tentado
Sem conseguir ter sucesso
Ninguém tinha atravessado
Ficando dentro da mata
Nem vestígio haver deixado.

Ele não quis nem saber
Fez logo uma cara dura
Disse que medo e perigo
Estou andando a procura.
Acho que chegou a hora
De viver minha aventura!

O homem só fez dizer
Sendo assim então que vá
Não é mais problema meu
Se algo acontecer lá
Pode ficar a vontade
E não lembre mais de cá

Tangeu ele, os animais  
Alegre e assoviando
O sol já se escondendo
A noite estava baixando
A mata muito fechada
Ele ia atravessando!
            
Uma média de dez léguas
Era aquela travessia
Se andasse a noite inteira
Somente conseguiria
Fazer aquele percurso
Quando amanhecesse o dia!

Zé Grandão andou bastante
Quando o cansaço bateu
A mata era tão escura
Um espaço apareceu
Procurando seus animais  
As cargas ali desceu!

Tirou a selas e as cangalhas
E peou os animais
Arranjou paus e fez lenhas
Porém ligeiro demais
Um fogo pra assar carne
Sentindo a fome voraz.

Quando o fogo virou brasas
Botou carne pra assar
Pingando muita gordura
Ele para aproveitar
Bateu por sobre a farinha
Começou mastigar.
            
Depois que assou a carne
Quando começou comer
Ouviu de dentro do mato
Alguma coisa mexer
Olhou, viu uma mulher
Muito alta aparecer.

A mulher era tão grande
Uns quatro metros de altura
Do ombro dela ao quadril
Tinham a mesma largura
Parecendo um botijão
Sem o mínimo de cintura!


O final deste e outros cordéis você encontra na Coletânea O BAÚ DO MEDO.

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