ZÉ DEGREDO E O MALAMÉM DO CASARÃO ASSOMBRADO

O poeta Chico Leite, batizado Roberto Francisco de Oliveira Leite, nasceu no povoado de Tareco em Morro do Chapéu-BA. Iniciou-se no Cordel em Salvador com Rodolfo Coelho Cavalcante e na cantoria com Bule-Bule. É também ilusionista. Publica folhetos, grava CDs e é professor de Música na Universidade de Tocantins.



ZÉ DEGREDO E O MALAMÉM DO CASARÃO ASSOMBRADO
Autor: Chico Leite do Tareco
(Cordel premiado pela SECULT/BA com adaptação para cinema)
Desenho da capa: Gabriel Agni com 11 anos

No mundo do anteontem
Andava a perambular
Um rapaz de idade fixa
Que o tempo não viu passar.
Era velho ser velho,
Mistério de admirar.

Andava de mundo em mundo,
Esse era o regime seu.
No estradar viajava;
Mil caminhos percorreu 
Por entre vales e serras,
Ao léu permaneceu.

Não tinha medo de nada:
Onça, caipora ou fantasma,
Coisas que a qualquer um outro
Basta pra dar até asma...
A coragem deste Zé,
Até jagunço se pasma.

Zé Degredo é mesmo o nome
E cognome completo,
Foi assim apelidado
Pelo Sinhô Anacleto – 
Homem de grande riqueza,
Mas que nunca teve neto.

Seu único filho morreu
Num casarão que morava
Com Maria Aparecida
Que sem ter filhos chorava,
Este marido usurento
Nem os carinhos lhe dava.

Na viuvez solitária
Um dia ela exalou-se,
A casa ficou tão feia,
Malassombrada tornou-se,
Mas coronel Anacleto
Com isso não perturbou-se.

Sabia que a causa era
Filho desobediente;
Repiludo e agressivo;
Mentalidade demente;
Caráter malicioso;
Comportamento indecente...

Faleceu empanturrado,
Porém não deixou sossego
Até que a mãe em um sonho
Soube que a causa era o apego
Que ele nutria ao casebre –
Antro de aranha e morcego.

E para desencantar,  
O pai ofertou vintém
Ao que quisesse dormir
No casebre, e esse alguém
Seria velado para 
Não fugir de Malamém.

Alguns sujeitos passaram
Poucos minutos na casa...
Na hora da pantumia,
Que a coragem bateu asa,
Desabalar na carreira
É o recurso – e não atrasa...

Deixemos os prolegômenos
Para o propriamente dito:
Zé, num bar, foi informado
Do casebre com seu mito
E quando soube do prêmio
Pulou que só um cabrito.

Falou ao velho Anacleto:
– Seu dinheiro vou ganhar,
Andei por tantas quebradas,
Nada pode me assombrar,
Se eu não dormir nessa casa,
De saias eu vou requebrar!...

Zé Degredo compreendeu
Que o prêmio consistia
Em dormir na assombrada,
Só sair no outro dia,
Sendo ao longe vigiado
Para ver se não fugia.

Pegou rede, bebeu água,
Urinou e foi dormir.
Foi pra lá às 8 horas
A cantar e a sorrir.
Todo mundo disse: – Esse
Logo, logo vai fugir!

Quando ele empurrou a porta
Só o rangido dava medo...
Porém já foi logo armando
A rede para dormir cedo
Dizendo: – Tô é cansado
E daqui não dou arredo!


O final deste e outros cordéis você encontra na Coletânea O BAÚ DO MEDO.

Comentários

  1. Fantastico Chico Leite, mas fiquei retada porque a historia tava ficando boa e buuuuu....rssssss

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  2. Chico Leite é um artista caminhando para completo. Rsrs
    Antes que o leite derrame, vida longa à Chico!

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